Templo de Juno

Não havia muito tempo desde minha chegada ao acampamento. Era um lugar perfeito. Deuses romanos, monstros mitológicos, semideuses... Tudo isso era estranho para mim, tão estranho quanto o fato de eu ter sido treinado por uma loba gigante. Mas, fora isso, tudo normal. Eu não entendia muito bem como funcionava aquilo de Coortes, nem por que tinham tanto medo - ou receio - de mim por ser filho de Plutão. Ser filho do deus dos mortos não era algo de que muitos se orgulhariam, mas de qualquer forma, eu não via motivo para tanta coisa. A Coorte para qual queriam me mandar era a V, a mais "fraca", onde os filhos de Netuno e Plutão geralmente iam. Eu não queria ser mais um. Queria provar que conseguia ser melhor do que os metidos da I Coorte, e era exatamente para lá que eu gostaria de ir. Precisava de uma carta de recomendação, que algum deus teria que me dar. O que eu podia fazer? Não sabia e provavelmente não era muita coisa. Pensei em orar. É, talvez funcionasse. Me dirigi até o Templo de Juno. Era um lugar lindo, pavões marchavam graciosamente para lá e para cá. Suas penas coloridas me hipnotizavam quando a luz do Sol batia, deixando as cores ainda mais vivas. Realmente um dos animais sagrados de Juno era lindo. Aproximei-me de sua estátua. Os pavões ao meu redor se agitavam, percebendo a presença de um filho de Plutão. Eles não ficaram felizes com isso, parecia que queriam que eu fosse embora dali o mais rápido possível. Ajoelhei-me, a estátua na minha frente. Era enorme e eu tinha a sensação de estar sendo observado, o que de fato eu estava. Minha prece seria silenciosa, seria mental. Então comecei. Ahn... Olá, Juno. Rainha dos Céus, senhora do Olimpo. A deusa mais importante, eu diria. Deusa da fidelidade, do matrimônio. Recorro à você, peço nessa silenciosa prece que ouça ao meu pedido. Não posso exigir nada de uma deusa, tampouco de uma deusa tão importante e poderosa como você, mas eu tinha que tentar. Por favor, se estiver ouvindo minha humilde prece, eu preciso de algo. Uma carta de recomendação. A senhora deve saber do que se trata... Eu desejo ingressar na I Coorte. A senhora também deve saber que os filhos de Plutão são enviados geralmente para a V Coorte, mas eu não quero ir pra lá. Quero mostrar que posso ser diferente. Ajude-me, por favor. Eu não me importaria de retribuir com um favor qualquer, sei que os deuses possuem muitos assuntos que não podem tratar pessoalmente. Mas nós meio-sangues podemos. Por favor, atenda à minha prece. Assim encerrei minha oração. Estranhamente, meus olhos estavam marejados. Talvez eu tivesse entrado em devaneios enquanto orava, ou sei lá. Olhei para cima, para a estátua, à espera de algo.

Não demorou muito para que aos pés da estátua, um brilho surgisse. As cores variavam, como se fosse um pavão. Alguns segundos a mais e eu estava segurando uma bela carta de recomendação. Era perfumada, um perfume estranho e gostoso ao mesmo tempo. Eu havia consegui. Agora, podia fazer o que eu estava desejando desde que entrei no acampamento. Agradeci mentalmente à Juno e peguei a carta. Embaixo, havia outro bilhete. Ali, estava escrito para que eu matasse os filhos de Júpiter. Não que eu fosse um psicopata sanguinário nem nada do tipo, mas era um pedido divino. E eu guardaria aquele bilhete. Pelo menos eu teria alguma justificativa. Enquanto saía, olhei para os pavões. Desculpem. Já estou indo embora. Disse, reprimindo um sorriso. Sabia que os animais não gostavam da minha presença. Saí dali, com minha carta e o bilhete bem guardados.